Publicado por Redação em Saúde Empresarial - 16/07/2025

O que as empresas podem fazer para evitar que profissionais trabalhem doentes

O presenteísmo, situação em que o profissional vai ao trabalho, mas rende menos por estar doente, tornou-se uma epidemia silenciosa nas empresas. Uma pesquisa da Bamboo HR, plataforma de software voltada para gestão de recursos humanos, revelou que quase 90% dos profissionais nos Estados Unidos trabalharam doentes em 2023, mesmo tendo direito à licença médica.

Para as empresas, os prejuízos vão muito além da queda de produtividade. Uma pesquisa com 29 mil adultos, chamada Auditoria de Produtividade Americana, estima que o presenteísmo custa até US$ 150 bilhões por ano à economia só nos EUA — quase dez vezes mais que o absenteísmo.

Outro estudo da Harvard Business Review aponta que funcionários que trabalham doentes perdem o foco, cometem mais erros e comprometem o desempenho das equipes. Além disso, aumentam o risco de disseminação de doenças, afastamentos prolongados e até pedidos de demissão. “A produtividade cai, os erros aumentam e o risco de acidentes de trabalho cresce, o que pode levar à perda de talentos e até à judicialização”, aponta Arthur Guerraprofessor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.

Apesar do impacto, muitos líderes ainda subestimam o presenteísmo. O desafio, segundo os pesquisadores que realizaram o estudo, está em reconhecer que o problema não é apenas uma questão de saúde, mas sim um sintoma de algo mais profundo: como os cargos são estruturados, quais expectativas são reforçadas e como a cultura organizacional valoriza (ou não) o bem-estar.

Por que profissionais trabalham doentes?

A pesquisa da Harvard Business Review aponta que o presenteísmo é resultado de um desequilíbrio entre duas forças. De um lado, estão as demandas que exigem esforço constante — como prazos apertados, jornadas rígidas e a expectativa de disponibilidade total. Do outro, os recursos que poderiam contrabalançar essa pressão — como flexibilidade, autonomia, apoio da liderança e equipes reservas.

Quando as demandas superam os recursos de forma contínua, os profissionais continuam trabalhando mesmo quando não estão bem. “Muitas vezes, o medo de perder o emprego ou parecer menos produtivo faz com que a pessoa continue trabalhando, mesmo sem condições físicas ou emocionais”, diz Guerra.

O papel das lideranças

Para enfrentar o problema, o estudo propõe três estratégias para líderes e empresas:

1. Mapear os desequilíbrios entre demandas e recursos por cargo

Diagnósticos com pesquisas rápidas, grupos focais e ferramentas visuais, como mapas de calor, ajudam a identificar onde o risco de presenteísmo é mais alto. A partir daí, é possível intervir diretamente: redistribuir tarefas, ajustar expectativas e fortalecer os recursos disponíveis.

2. Treinar gestores para identificar sinais de alerta

Líderes devem estar atentos a sinais como a insistência em trabalhar doente, e-mails enviados de madrugada ou hesitação em pedir afastamento. “As lideranças precisam ser treinadas para identificar quando alguém está doente e abordar a situação com empatia”, diz Guerra. “O exemplo não é a melhor forma de ensinar — é a única. Se o líder não demonstra isso na prática, quem vai conseguir?”

3. Criar mecanismos de escuta e resposta

Pesquisas curtas e frequentes, acompanhadas de ações ágeis, demonstram que a liderança está atenta. A Microsoft, por exemplo, adotou enquetes diárias com os funcionários durante a pandemia e, com base nas respostas, ajustou prazos, reduziu reuniões e redistribuiu tarefas.

Esse tipo de resposta rápida não só evita o esgotamento como fortalece a confiança da equipe. “Criar uma cultura organizacional que valorize o cuidado com a saúde é essencial. As empresas precisam deixar claro que não glorificam a exaustão.”

Guerra reforça que simplificar os processos de afastamento, eliminar burocracias desnecessárias e não penalizar quem precisa se ausentar são alguns passos para gerar segurança psicológica e evitar o presenteísmo.

Empresas que seguem ignorando o problema como algo pontual ou individual correm o risco de cultivar ambientes tóxicos, perder talentos e comprometer sua reputação. “Quando a exaustão se torna normalizada, a companhia entra na lógica da produtividade a qualquer custo — e isso tem um alto preço ético, financeiro e humano”, afirma Dr. Arthur Guerra.

Fonte: Forbes Brasil


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